Não insistas acreditar no que já não existe, não faz sentido.
Até o que ainda existe por vezes é inexplicável. Mas existe, por isso deve continuar, ainda que incoerente.
E há incoerências que valem tanto a pena!
Tudo tem um fim, uma duração, e nada dura para sempre. Comigo não. E que piada teria se durasse?
Eu sei lá se a eternidade faz parte da vida, sei o que é a eternidade, sei que faz parte de nós.
Eu e tu, até que a morte nos separe.
O eterno não tem de ser bom. Pensavas que o eterno tinha de ser bom?
Sim, o amor para sempre é bonito. Quando há amor.
Dizem por aí que há amores para sempre, eu sei lá. Também se diz que é a morte a acabar com um corpo, e eu vejo tanto corpo morto antes da morte chegar.
Dizem tudo, e eu acredito. E insisto em acreditar no que já não existe também.
Tantas são as vezes em que queres dizer, fazer ou sentir o que não dizes, o que não fazes e o que não sentes.
Para ficar bem, não magoar. Para que não te magoem também.
E escolhes mentir, pior, escolhes que te mintam.
Porque a verdade, se não é a que desejas, dói. Porque a verdade, se não é a que o outro deseja, dói.
Não, não se passa nada. Eu e tu, até que a morte nos separe. Vai ficar tudo bem, prometo. És especial, sabias?
E sabes tão bem, o que te preocupa, que a vida afasta dois corpos antes da morte chegar, que nem sempre fica tudo bem( ainda que prometas), e que és apenas mais um, igual a outros tantos, que acredita nisso. Nisso, uma realidade inexistente. Que fere, incomoda, quando compreendes que vives numa mentira, que crias e deixas alguém criar para que te sintas bem.
Nada dura para sempre, pelo menos eu quero acreditar nisso.
O sempre, sempre acaba e o valor da vida está aí mesmo.
Amanhã é outro dia, e depois seguirá outro. E outro.
E tu não sabes se ainda cá vais estar, sabias?
Fazes o que te apetece, e às vezes o que não te apetece também. Porque é importante fazê-lo, e o que queres realmente fica para mais tarde. Agora é que não.
E se as pessoas fossem eternas, os sentimentos infindáveis e as palavras inesquecíveis?
E por vezes são, se assim o quiseres.
Por isso agarra o que faz feliz, sem esquecer o que queres verdadeiramente. E não esqueces.
De que vale tentares fugir? Não te adianta evitar isto ou aquilo pelo receio do que pode acontecer a seguir.
Há um preço a pagar para os que arriscam, há um preço a pagar para tudo, e para os que não arriscam o custo é ainda maior.
Porque mesmo quando ficas parado, no teu canto, para que nada mude e te mantenhas seguro, a vida encarregar-se-á de te fazer mexer e acabar com essa estabilidade.
Porque a vida para ser vivida não pode ser certa, disso tenho eu a certeza.
Viver envolve medo, risco, indefinição, dúvida, confusão. E ainda bem.
Ainda mal para os que não acreditam nisto, os que aceitam o que têm e o que são pelo pavor que sentem à incerteza do que é ter ou ser outra coisa qualquer. Mesmo que gostassem de a ter, mesmo que gostassem de a ser. “ É a vida”, dizem depois.
Não, não é.
E depois vem a vida, com as dificuldades, os problemas, os contratempos. Isto é a vida.
Ah, pois é.
E vives, se quiseres. E querer é estar disposto a agir, realizar, tentar, perder, ganhar, cair, levantar.
Para cada momento há um tempo certo, e existem tantos momentos para três tempos apenas.
Passado, presente, futuro.
E o que significa ontem se tu estás agora a considerar o que poderias fazer amanhã?
Ás vezes queres esquecer aquela palavra, a tal pessoa, um ou outro lugar, uma fase, e até uma experiência.
Desejas apagar de vez todas as vivências menos boas, ou talvez as melhores que alguma vez tiveste. E por isso anseias que desapareçam, porque sabes que não voltam mais.
Não voltam, mesmo que esgotes as tuas forças para ir contra isso. Quanto muito terás algo semelhante, e semelhante não é igual.
Quantas vezes quiseste pensar diferente, fazer diferente, ser diferente? Tentar outras palavras, abraçar outro corpo, lutar por novos sonhos talvez.
E o que viveste antes não deixa de ter sentido.
Porque o ontem é sempre o que vês quando constróis hoje o que vais idealizar no dia seguinte.